30 junho, 2006

Get Your Kicks, on Route 66

Hoje, chegou aos cinemas nacionais o mais novo longa de animação da Pixar, Carros, o qual já pude assistir em pré-estréia. O link leva para a página em Português da Wikipédia, de onde há outros links para as páginas do filme e no IMDB; há detalhes do roteiro lá, então procedam com cuidado, caso não desejem saber de antemão detalhes demais da trama.

Friamente falando, o filme é merecedor de nota 7,5... 7 talvez. Ou seja, é bom sem ser ótimo -- tem personagens simpáticos, toques meios no estilo do Frank Capra, animação excelente, mas também tem seus problemas, como a história ser claramente previsível, possuir diversos clichês comuns a este tipo de filme, como Doc Hollywood, um filme do início dos anos 90, com Michael J. Fox, que possui trama bastante semelhante. Além do fato de que o universo onde os carros existem como seres conscientes, divertido que foi ver seus detalhes, abusou tanto de ser implausível que quase estourou meus limites de suspensão de descrença...!

Contudo, o que eu posso dizer pessoalmente é que foda-se tudo isto. Na minha percepção pessoal, Carros tem que ter nota dez, não há como. Pois filmes, bons filmes, tem que cativarem emocionalmente o espectador, para fazerem a diferença entre apenas serem mais um bom filme, e serem um marcante bom filme. E Carros consegue isto comigo, pois posso dizer que tenho ligações emocionais com a trama -- já tive a oportunidade de ter dirigido através de trechos daquilo que foi a real Rota 66, os localizados no sudoeste dos EUA.

Com mais dois bons colegas de viagem, e como na famosa canção composta por Bobby Troupe, dirigi através de Barstow, Needles, Kingman, San Bernardino, entre outras, incluindo aquilo que um dia foi Amboy, uma das cidades que outrora estiveram localizadas na Rota 66, e cujo destino foi uma das inspirações para a Radiator Spings do filme. Dirigir aquele Ford Mustang através daquela estrada na direção do por-do-sol na costa do Pacífico realmente é de criar um elo de ligação forte com o tema do filme e suas nuances.

Sim, Carros pode não ser o melhor filme da Pixar até hoje, e muitos o classificarão como sendo aquele que interrompeu a notória linha de sucessos da Pixar com unanimidades de público e crítica... e isto apesar de Cars ter tido um sólido 76% no Rotten Tomatoes, e seguramente deva passar de 200 milhões de dólares de arrecadação somente nos EUA, fora o resto do mundo. Ou seja, um claro sucesso no conceito de qualquer um, exceto dos naysayers de sempre, claro.

Seja como for, acredito que Carros foi uma adição excelente ao rol de filmografia da Pixar, que demonstra músculos não apenas de sucesso financeiro, mas também de sucesso criativo. Que assim conservem, e vamos ver o que mais terão para apresentar.

25 junho, 2006

Warren Buffett doa 40 bilhões de dólares

Segundo a mais recente edição da Fortune, Warren Buffett anunciou que irá doar cerca de 40 bilhões de dólares para a caridade.

A doação, que corresponde a cerca de 85% de sua fortuna, composta por ações e participações em inúmeras grandes empresas, irá para diversas Fundações, entre elas a já bastante musculosa Bill & Melinda Gates Foundation, e será de grande valia em inúmeros projetos filantrópicos, como pesquisa contra a AIDS, melhorias no sistema educacional dos EUA, programas de desenvolvimento na África, e inúmeros outros.

Nem é necessário se comentar muito, a ação fala por si mesmo -- magnatas da classe de Buffet sabem retornar para a sociedade aquilo do que souberam como construir para eles mesmos.

21 junho, 2006

TGV: FRB Mark II

Como vimos pelos últimos dias, a "Fundação Ruben Berta Mark II", ou seja, o grupo autodenominado "Trabalhadores do Grupo Varig", insistiu fortemente para que o juiz Luis Roberto Ayoub homologasse a venda da Varig para a sua fachada corporativa, a NV Participações. De tanto insistir, a TGV teve o que queria -- e a venda foi homologada.

Agora, resta a eles colocarem o cascalho na mesa, e revelar os tais investidores, até sexta-feira que vem. Contudo, como o próprio TGV já admitia meras horas depois da homologação -- e que confirmam novamente -- eles não vai conseguir depositar os 75 milhões de dólares até sexta-feira, prazo máximo.

Ao que parece, Ayoub chamou o blefe deles, por talvez ter perdido a paciência com os Pretorianos do TGV. E agora, a coisa explode na cara deles, insistindo na conversa fiada de "investidores" que ninguém sabe quem são, de onde vem, para onde vão. Literalmente, compraram algo pelo qual não tem como pagar.


É para com funcionários com este tipo de atitude patética e nociva a quem a Varig vai ser confiada? Se for, é como havia dito antes... tudo vai continuar como era antes na Air Abrantes.

16 junho, 2006

Olho por Olho

Se alguém tinha alguma dúvida se foi uma boa idéia de John Lasseter e equipe da Pixar de criar o design dos personagens de Carros com os olhos nos para-brisa ao invés de nos faróis, então não tenham mais dúvida:

(Origem da figura aqui)

Além da aparência horrível, os personagens perderiam muito em habilidade de expressão. Como o que os animadores tem para trabalhar é basicamente uma "cabeça" (carroceria) e "ombros" (chassis), os olhos serem nos faróis iria matar qualquer nuance e sutileza em possibilidades de atuação.

15 junho, 2006

Quanto mais se muda, mais permanece o mesmo

Um bom artigo do Luis Nassif a respeito das mais recentes propostas apresentadas pela Varig. Um trecho interessante a se mencionar, que cito abaixo (negrito meu):
O curioso nessa história é a participação ainda intensa da FRB nas negociações. Uma hora depois do juiz bater o martelo, negociadores do TGV foram convidados a explicar a operação em uma reunião informal com a Varig. Em lugar de um encontro técnico, reservado, havia um auditório com 50 pessoas da diretoria e do Conselho de Administração querendo saber todos os detalhes. Criou-se uma situação curiosa em que as explicações, em vez de serem dadas aos credores, eram dadas aos devedores.
Ou seja, é absolutamente desconcertante que a corja da FRB ainda esteja em posição de palpitar a respeito do que quer que seja neste processo. Ridículo, e isto não tem como deixar uma impressão de que, mesmo que algum acordo acabe surgindo e a Varig seja "salva", vai continuar tudo como era antes na Air Abrantes.

Editorial da Scientific American

Fuçando em alguns arquivos antigos, encontrei este sarcástico editorial da Scientific American, publicado no Primeiro de Abril de 2005. Um pouco antigo a matéria, mas a essência é mais atual do que nunca. A tradução que fiz na época segue abaixo.

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OK, nós desistimos.

Não há maneira fácil de aceitar isto. Por anos, cartas de leitores nos disseram para nos contermos a ciência. Eles argumentaram que ciência e política não se misturam. Nos disseram que deveríamos ser mais balanceados em nossa apresentações sobre temas como criacionismo, defesa antimíssil, e aquecimento global. Nós resistimos a estes conselhos e pretendemos que não nos importamos com as acusações de que a revista deveria ser rebatizada de "Unscientific American", ou de "Scientific Unamerican", ou mesmo "Unscientific Unamerican". Mas a primavera está chegando, e a natureza se modifica, então não há momento melhor para dizer: vocês estavam certos, e nós estávamos errados.

Em retrospecto, a cobertura por esta revista da assim chamada evolução tem sido horrivelmente parcial. Por décadas, nós publicamos artigos em todas as edições que endossaram as idéias de Charles Darwin e seus seguidores. Realmente, a teoria da descendência comum através da seleção natural tem sido considerada como o conceito unificador para toda a biologia e uma das maiores idéias científicas de todos os tempos, mas isto não era razão alguma para ser fanático a respeito.

Onde estavam os artigos de resposta apresentando o poderoso caso para o criacionismo científico? Porque nós estávamos tão indispostos a sugerir que os dinossauros viveram a 6 mil anos atrás ou que um dilúvio cataclísmico cavou o Grande Cânion? Culpem os cientistas. Eles nos impressionaram com os seus belos fósseis, as datações baseadas em carbono, e suas dezenas de milhares de artigos revistos por seus iguais. Como editores, não tínhamos nada que sermos persuadidos por montanhas de evidências.

Alem disto, nós desavergonhadamente desdenhamos do teóricos do Design Inteligente, por os classificarmos com os criacionistas. Criacionistas acreditam que Deus foi quem criou toda a vida, e isto é de certa maneira uma idéia religiosa. Mas os teóricos do DI acreditam que em um momento não especificado, algum superser não identificado desenvolveu a vida, ou talvez apenas algumas espécies, ou talvez apenas algumas coisas nas células. Isto é o que faz do DI uma teoria científica superior: não se incomoda com detalhes.

Bom jornalismo valoriza imparcialidade acima de tudo. Nós devemos a nossos leitores a apresentação das idéias de todos de maneira igualitária e não ignorar ou desacreditar teorias simplesmente pelo fato de que elas não possuem argumentos ou evidências com credibilidade científica. E tãopouco nós deveríamos sucumbir ao erro fácil de acreditar que cientistas entendem melhor os fatos de seus campos de conhecimento do que, digamos, senadores dos EUA ou escritores de best-sellers. Realmente, se políticos ou grupos de interesse dizem coisas que parecem ser inverdades ou confusas, nosso dever como jornalistas é de os citar sem comentários e sem os contradizer. Fazer o contrário disto seria ser elitista e portanto, errado. Neste espírito, nós vamos parar com esta prática de expressarmos nossas visões nesse espaço: uma página editorial não é local para opiniões.

Se preparam para uma nova Scientific American. Nada mais de discussões sobre como ciência deveria informar políticas. Se o governo está disposto a cegamente construir um sistema anti-ICBM que não tem como funcionar como o prometido, que vai desperdiçar dezenas de bilhões de dólares dos contribuintes e comprometer a segurança nacional, você não vai ouvir nada de nós. Se estudos sugerirem que as políticas antipoluição desta administração irão na verdade aumentar a quantidade de partículas perigosas que o público irá respirar pelos próximos vinte anos, não é nosso problema. Nada mais de discussões sobre como políticas afeta a ciência, então o que é que tem se o orçamento da Fundação Nacional de Ciências é cortado? Esta revista irá se dedicar puramente a ciência, justa e imparcial ciência, e não apenas a ciência que os cientistas dizem ser ciência. E iremos começar tudo isto no Dia Primeiro de Abril.

Certo, Nós Desistimos.

MATT COLLINS
THE EDITORS editors@sciam.com
COPYRIGHT 2005 SCIENTIFIC AMERICAN, INC.

14 junho, 2006

Baile da Ilha Fiscal continua

E a insistência em continuar mantendo a Varig em seu interminável Baile da Ilha Fiscal é o que acabou prevalencendo, com a decisão sobre o que raios fazer com a empresa sendo novamente adiada -- e agora, por tempo indeterminado, nada menos.

Khaless do céu, mas que falta de um par de bolas de tomarem logo uma decisão e aceitarem as conseqüências, seja para o bem ou para o mal. E não me espanta que tenha sido por tempo "indeterminado", na verdade. Pois no meu ver, a credibilidade do juiz do caso, Luiz Roberto Ayoub, de dar prazos limites para entrega de material, tomada de decisões ou qualquer outra coisa já é zero, uma vez que aparentemente, o conceito de "prazo" não tem o menor significado para ele.

09 junho, 2006

Show do Bilhão

Estava demorando, é claro. Conforme esta nota da Folha Online alega, "cinco bilhões" de pessoas deverão assistir ao jogo de abertura da Copa do Mundo 2006. É que nem o papinho furado da cerimônia do Oscar, que também adora brincar com exageros de número nas casas de bilhões.

Eu só gostaria de saber que tipo de alucinação ridícula pode resultar em um valor como este. Pois até parece que realmente mais de oitenta por cento da população da Terra vai estar colada na frente de uma TV para assistir a um jogo de futebol. Fala sério!

Para ser viável pelo valor da face, este número teria que incluir populações inteiras sentadas na frente da TV, e por mais fanático que uma nação seja por futebol -- mesmo o Brasil -- ainda assim haverão inúmeras pessoas que não querem ou mesmo não podem assistir a nada no momento, por estarem trabalhando em setores críticos, digamos. E para não falar nada, também do fato de que várias centenas de milhões de indianos, chineses e outras populações da Ásia teriam que ficarem acordados nas suas madrugadas, como se não tivessem mais nada para fazer... como dormir para descansar para trabalharem no dia seguinte, por exemplo. Claro, claro. Só no país das maravilhas dos consultores de marketing todas as pessoas do planeta podem se dar ao luxo de largarem seus serviços ou perderem horas de sono para assim reforçar suas fantasiosas contas de pares-de-olhos-na-frente-de-TV.

O que ocorre é que cinco bilhões de pessoas devem ser a audiência potencial do jogo de abertura, aquilo que seria possível no máximo do máximo, considerando as regiões que vão receber as imagens transmitidas, mas isto não quer dizer -- mas nem de perto -- de que cinco bilhões de pessoas estarão efetivamente na frente de uma tela de TV, ou que mesmo fossem pessoas diferentes, se a conta utilizar aqueles conceitos "mercadológicos" de audiência "combinada".