25 fevereiro, 2006

Capacidades Militares do Oriente Médio

Como reporta esta matéria da CNN, o Departamento de Defesa reduziu o status operacional do único batalhão iraquiano que seria capaz de lutar por si mesmo, para um nível que atesta que a força precisa de suporte americano para operações de combate. Como se pode constatar, apesar de um bom trabalho estar em andamento, ainda está longe o dia em que as novas forças armadas iraquianas vão estar aptas a defenderem o país de maneira eficiente, e conseguir fazer isto no volátil ambiente do Oriente Médio. Entrementes, lá ficam as forças americanas bancando os baby-sitters, um desperdício e um esforço valioso desprendido por realmente nada que garanta uma melhor segurança aos Estados Unidos -- o foco primário daquilo que deve ser a missão do Departamento de Defesa dos EUA.

Agora, isto me remeteu a uma questão a qual vez e outra penso a respeito, e que já havia discutido antes nas comunidades em que freqüento. Se formos avaliar bem, pode-se constatar que em geral, nações árabes e/ou mulçumanas de outras etnias daquela região demonstram ter uma dificuldade em se organizarem como os exércitos ocidentais são constituídos, e uma tendência a sofrerem derrotas militares quando lutam com estes exércitos formados na tradição militar moderna, com divisões de infantaria, artilharia, cavalaria, forças aéreas e navais, e assim por diante.

Falando de memória, a coisa parece vir desde o século 19, e tem um bom exemplo no século 20 com a derrota do Império Otomano na 1GM; disto, temos diversos exércitos do Oriente Médio tomando um sal de um recém-nascido Israel, para não falarmos nos conflitos de 1967 e 1973; a Guerra do Irã-Iraque parece que foi a guerra dos incompetentes versus os despreparados, em um conflito que foi talvez um dos maiores desperdícios de equipamento militar da história; o Paquistão sempre mal se agüentou contra a Índia nos dois conflitos de 1965 e 1971; as duas guerras do Golfo, mesmo considerando a potência dos EUA, foram derrotas esmagadoras. E há vários outros casos aqui e ali, embora há também algumas exceções, claro, como por exemplo a integração da Turquia na OTAN e o necessário nível de competência mínimo para isto, e a campanha de Suez em 1957, que viu o Egito dar algum trabalho para a Grã-Bretanha e a França, mas nada que eles não conseguissem reverter caso os EUA e a URSS não tivessem interferido diplomaticamente.

Agora, nos perguntemos: porque esta tendência árabe e/ou mulçumana para fracassos militares deste tipo, quando com exércitos no seu formato clássico? Não deve ser burrice, pois não há razão alguma para se imaginar que seja um traço genético ou qualquer bobagem do tipo. Não deve ser covardia, também -- eles já mostraram que tem as bolas necessárias para enfrentamentos do tipo. Não é pobreza ou falta de recursos: muitos países daquela região sempre mantiveram gastos militares altos, compraram material militar à vontade, e sempre tiveram muito equipamento de qualidade a sua disposição. Treinamento, nem tanto: os soviéticos cansavam de treinar diversos exércitos do Oriente Médio, mas estes sempre tomavam pau de Israel; os EUA treinaram bem o pessoal militar iraniano no período do Xá Reza Palavi, mas isto não impediu o Irã de não conseguir derrotar em definitivo o Iraque.


A coisa talvez deva ter tintas culturais e sociais; provavelmente tenha algo a ver com a falta de unidade nacional, que hoje é baseada muito em estados-nações meio que impostos no final do período colonial, ao longo do século 20, além de costumes tribais que pregam lealdade mais a uma etnia ou família do que a estes estados. Sem uma base social destas, a maneira de se estabelecer uma força militar confiável e competente acabe comprometida, e assim, a prática de guerrilha e atos terroristas acaba por se encaixar mais em um perfil de combate o qual eles parecem lidar melhor. Uma outra maneira é olhar para o extremo asiático: o conceito de estado nacional sempre foi mais sólido naquela região, e de fato, os exércitos de países como Japão, Coréia, China e outros, tem um histórico militar melhor, seja em guerras passadas, seja em capacidade militar atual documentada. É algo interessante avaliar quando em debates sobre o tema do Oriente Médio atualmente.