Fuçando em alguns arquivos antigos, encontrei este sarcástico editorial da Scientific American, publicado no Primeiro de Abril de 2005. Um pouco antigo a matéria, mas a essência é mais atual do que nunca. A tradução que fiz na época segue abaixo.
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OK, nós desistimos.
Não há maneira fácil de aceitar isto. Por anos, cartas de leitores nos disseram para nos contermos a ciência. Eles argumentaram que ciência e política não se misturam. Nos disseram que deveríamos ser mais balanceados em nossa apresentações sobre temas como criacionismo, defesa antimíssil, e aquecimento global. Nós resistimos a estes conselhos e pretendemos que não nos importamos com as acusações de que a revista deveria ser rebatizada de "Unscientific American", ou de "Scientific Unamerican", ou mesmo "Unscientific Unamerican". Mas a primavera está chegando, e a natureza se modifica, então não há momento melhor para dizer: vocês estavam certos, e nós estávamos errados.
Em retrospecto, a cobertura por esta revista da assim chamada evolução tem sido horrivelmente parcial. Por décadas, nós publicamos artigos em todas as edições que endossaram as idéias de Charles Darwin e seus seguidores. Realmente, a teoria da descendência comum através da seleção natural tem sido considerada como o conceito unificador para toda a biologia e uma das maiores idéias científicas de todos os tempos, mas isto não era razão alguma para ser fanático a respeito.
Onde estavam os artigos de resposta apresentando o poderoso caso para o criacionismo científico? Porque nós estávamos tão indispostos a sugerir que os dinossauros viveram a 6 mil anos atrás ou que um dilúvio cataclísmico cavou o Grande Cânion? Culpem os cientistas. Eles nos impressionaram com os seus belos fósseis, as datações baseadas em carbono, e suas dezenas de milhares de artigos revistos por seus iguais. Como editores, não tínhamos nada que sermos persuadidos por montanhas de evidências.
Alem disto, nós desavergonhadamente desdenhamos do teóricos do Design Inteligente, por os classificarmos com os criacionistas. Criacionistas acreditam que Deus foi quem criou toda a vida, e isto é de certa maneira uma idéia religiosa. Mas os teóricos do DI acreditam que em um momento não especificado, algum superser não identificado desenvolveu a vida, ou talvez apenas algumas espécies, ou talvez apenas algumas coisas nas células. Isto é o que faz do DI uma teoria científica superior: não se incomoda com detalhes.
Bom jornalismo valoriza imparcialidade acima de tudo. Nós devemos a nossos leitores a apresentação das idéias de todos de maneira igualitária e não ignorar ou desacreditar teorias simplesmente pelo fato de que elas não possuem argumentos ou evidências com credibilidade científica. E tãopouco nós deveríamos sucumbir ao erro fácil de acreditar que cientistas entendem melhor os fatos de seus campos de conhecimento do que, digamos, senadores dos EUA ou escritores de best-sellers. Realmente, se políticos ou grupos de interesse dizem coisas que parecem ser inverdades ou confusas, nosso dever como jornalistas é de os citar sem comentários e sem os contradizer. Fazer o contrário disto seria ser elitista e portanto, errado. Neste espírito, nós vamos parar com esta prática de expressarmos nossas visões nesse espaço: uma página editorial não é local para opiniões.
Se preparam para uma nova Scientific American. Nada mais de discussões sobre como ciência deveria informar políticas. Se o governo está disposto a cegamente construir um sistema anti-ICBM que não tem como funcionar como o prometido, que vai desperdiçar dezenas de bilhões de dólares dos contribuintes e comprometer a segurança nacional, você não vai ouvir nada de nós. Se estudos sugerirem que as políticas antipoluição desta administração irão na verdade aumentar a quantidade de partículas perigosas que o público irá respirar pelos próximos vinte anos, não é nosso problema. Nada mais de discussões sobre como políticas afeta a ciência, então o que é que tem se o orçamento da Fundação Nacional de Ciências é cortado? Esta revista irá se dedicar puramente a ciência, justa e imparcial ciência, e não apenas a ciência que os cientistas dizem ser ciência. E iremos começar tudo isto no Dia Primeiro de Abril.
Certo, Nós Desistimos.
MATT COLLINS
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