Falando em The West Wing, me cai na mão os dois primeiros episódios de uma nova série de TV no gênero, Commander in Chief, produzida pela ABC. Trocando em miúdos a premissa inicial, o atual Presidente Bridges, um republicano, tem um derrame seguido de morte súbita, e assim, Mackenzie Allen (interpretada por Geena Davis), a Vice-Presidente, assume o cargo, fazendo com que seja a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos. Contudo, Bridges a havia escolhido para estar na sua chapa em uma mera mistura de manobra de relações públicas com cuidado de trazer bagagem intelectual para a sua Administração, considerando que a moça tem vários prêmios Nobel, é habilidosa analista de política internacional, pertencente ao meio acadêmico, etc, etc. Um fator a mais na conversa toda é que Allen não é nem republicana ou democrata, o que fez dela o primeiro político de caráter independente a assumir a Casa Branca em mais de dois séculos; George Washington foi o primeiro.
Assim, Allen tem que enfrentar as reações iniciais contrárias de inúmeras pessoas frente a situação de ela assumir o cargo de um Presidente com o qual nunca concordou realmente com a agenda dele. O episódio-piloto se dedica a estabelecer as ponderações que ela faz para finalmente decidir manter-se no cargo, ao invés de renunciar para que o Speaker of the House assumisse, alguém que o finado POTUS parecia realmente preferir. Interpretado por Donald Sutherland, Nathan Templeton parece ser um Tom DeLay mais refinado, o que diz muito sobre as razões pelas quais Allen não estava mesmo gostando da idéia de ter que renunciar para que este mais preferido do "establishment" assumisse o cargo.
Commander in Chief está claramente querendo ser a The West Wing da ABC -- bastam 15 minutos dentro do piloto para qualquer um ver as semelhanças intencionadas pela equipe de produção com a série da NBC: com Geena Davis, tem um nome de peso de Hollywood para servir como POTUS, tem o tom solene das cenas, a fotografia e desings de produção, as posições e características dos personagens que lista, o andar apressado pelo corredor com câmera seguindo, até a típica foto preto-e-branca de uma pessoa angustiada de costas no Salão Oval na abertura, está tudo lá.
Mas pelo menos neste primeiro momento, não dá para encarar CinC como senão um "genérico" de TWW: o tom geral da trama me pareceu um tanto quanto simplista, e a série carece um pouco do diálogo rápido e inteligente típico dos primeiros anos de TWW, marca da equipe liderada pelo criador da série, Aaron Sorkin. A série da ABC também vai precisar demonstrar que pode desenvolver e entregar personagens de peso, peça fundamental em uma série com estas características. Intelectualmente, Allen é uma Bartlet-de-saias; e visualmente, com belas pernas por debaixo das bem-cortadas saias, tudo muito bom. Mas isto só não basta e tanto ela como o grupo de personagens geral terão que mostrar a que vieram, e espero que a equipe criativa de CinC saiba os desenvolver a todo seu potencial e ao potencial da premissa. E sinceramente espero que eles não desandem para estabelecerem de maneira exagerada situações de "mulher-presidente"; é uma premissa que acho interessante, mas isto por si só não segura uma série inteira.
É verdade que é um tanto quanto prematuro para querer mesuarar o total potencial de CinC, bem como é um tanto quanto injusto querer balizar este potencial por eventuais comparações com TWW, mas ao se meterem a colocarem em campo uma série exatamente com as características que colocou, então a coisa praticamente acontece por padrão. Mas enfim, gostei do que vi por ora, embora ainda é cedo para saber se vou me entusiarmar com a série. Aguardemos.