14 novembro, 2005

Para cima e para baixo pela Avenida

Algo sempre curioso de se observar são as práticas femininas de vestuário, sem dúvida... não apenas para se apreciar o conjunto da coisa ornando com a usuária anatomicamente adequada e agradável, mas também para se observar alguma coisinha aqui e ali de comportamento de uso das peças.

O assim-chamado "salto-plataforma" não é novidade alguma, claro -- estão poraí a coisa de décadas. Embora não tão elegantes como sapatos de salto-alto convencional, dão um ganho de altura razoável para a mulher sem a necessidade de se retorcer o pé em uma posição claramente nada natural. Mas o que tem me chamado a atenção em tempos recentes para este tipo de salto de sapato feminino é que a altura das plataformas parece atingir novos recordes, pelo jeito... salto-plataformas tão altos que daqui a pouco vão começar a exigir giroscópios embutidos para a mulher conseguir manter estabilidade em cima da coisa. Ainda assim, devo admitir que há bons usos paralelos, sem dúvida. Recentemente, em final de tarde chuvoso, me aproximo de uma esquina onde uma poça de água razoável havia se acumulado. Logo depois, se posiciona ao meu lado uma garota, mas ela não se faz de rogada: em uma poça de água na qual eu não entraria sequer com o robusto par de botas de couro que estava usando, a cidadã a atravessou com seu salto-plataforma como se a coisa sequer estivesse lá.

Ainda sobre sapatos de salto, é muito relatado por várias usuárias deste tipo de sapato como eles podem ser desconfortáveis para caminhadas longas, como comutação entre casa-trabalho e trabalho-casa, especialmente se a usuária dele utilizar transporte público no trajeto. Mas por estes dias, vejo em uma plataforma do Metro de São Paulo aquilo que eu acredito que deveria ser uma visão mais comum. Uma garota, coisa de uns vinte-e-alguma-coisa anos de idade, bonita e muito bem apresentável profissionalmente: maquiagem leve, tailleur social bem cortado, meia-calça, e um par de tênis Nike Shock, com meia de cano-baixo por cima da nylon.

É prática comum nos EUA (especialmente nos grandes centros), por exemplo, isto que esta garota aparentemente fazia, ir de casa para o trabalho e vice-versa utilizando um tênis, ao invés de sapato de salto alto, o qual ela deve manter na sua mesa de trabalho. Chegando lá, troca os tênis pelo salto pelo resto do dia, e novamente muda de calçado para voltar para casa. Considerando a lógica detrás disto, é admirável que brasileiras não façam o mesmo mais regularmente. A maioria dos argumentos contra esta prática que já ouvi por aqui seguem nas linhas do "Fica Ridículo", mas o cerne da questão aqui não é de estilo, mas sim de praticidade e conforto, ao mesmo tempo em que mantém o estilo necessário para a ocasião... afinal de contas, não é uma renúncia completa ao salto-alto, mas sim apenas a adequação dele ao tempo e local necessário para tal.


Mas enfim, não é incomum no campo da moda a necessidade de estilo se sobrepor a de praticidade ou lógica, claro. O que tem muito a ver com a minha observação final do dia, a qual sei bem que na verdade é mais de "não perder a piada" do que qualquer outra coisa: mulheres talvez não devessem se encanar tanto com lingerie, e todas as considerações que costumam fazer a respeito. Afinal de contas, quem não pode ver isto, bem, não pode ver. E quem pode ver, certamente não irá querer ficar vendo por tempo demais.