O mais recente livro que acabei de ler é Pouso Forçado: A História Por Trás da Destruição da Panair do Brasil pelo Regime Militar, escrito por um bom amigo meu, Daniel Sasaki. Na verdade, é um livro que até mesmo coloquei na frente dos demais que já tinha para ler, pois estava ansioso para saber mais a respeito do tema, o qual nunca foi de se conseguir informação em abundância. A Panair e a história a respeito de seu fim são coisas que você ouve falar aqui e ali, mas nunca realmente se têm detalhes, mas apenas vagas e genéricas citações saudosas, nada muito específico.
Bem, não mais. Após extensa pesquisa dos fatos ocorridos, e das evidências para os suportar, Daniel nos oferece em Pouso Forçado um retrato o mais completo possível da cadeia de eventos que levaram ao fim desta companhia aérea brasileira, que era então a mais prestigiosa e bem-sucedida operadora brasileira. Mas, como os seus controladores não eram vistos com bons olhos pelo regime, armou-se vendetas, conspirações e maquinações para literalmente destruir a Panair e dividir seu espólio entre os chegados e os mimosos ao regime.
Eu imaginava que havia sido uma atitude arbitrária e imoral por parte do regime militar e seus Pretorianos, mas jamais tive idéia da magnitude e da canalhice da coisa toda. Como, com uma mera canetada, o regime militar cassou todas as concessões de linhas da Panair, alegando "irreversíveis problemas financeiros" na companhia, quando na realidade a Panair era a empresa aérea brasileira cujas dificuldades financeiras eram as menores. Como estas linhas foram sumariamente transferidas em sua totalidade para a Varig, sem qualquer licitação ou consideração sobre partilha com outras empresas, e como, na mesma mera noite do dia da cassação das linhas da Panair, a Varig já estava completamente preparada e pronta para assumir as linhas da Panair para a Europa, com 707 abastecidos no Galeão, com tripulações preparadas para operarem em aeroportos europeus – algo impossível de se realizar sem extensa preparação prévia.
Isto e mais pode ser constatado ao se ler a obra, bem escrita e bem embasada, um trabalho que realmente fazia falta. E relevante aos tempos atuais, também, considerando que depois da Transbrasil e Vasp, agora se tem exatamente Varig aí, de barriga para cima e boca aberta, uma morta-que-esqueceu-de-deitar. Bom para ela que os governos atuais não escolham fazer eutanásia neste paciente em coma, como o regime militar escolheu sem pestanejar fazer eutanásia em um paciente que tinha, quando muito, um mero resfriado.
Link para a obra no website do Submarino pode ser encontrado aqui, e uma entrevista de Daniel para o Jetsite pode ser lida neste link aqui, onde ele comenta mais a respeito do livro e deste capítulo recente da história brasileira; recomendo muito a leitura, tanto quanto do próprio livro.