23 setembro, 2005

Peak-a-boo!

Severino se retirou da Presidência da Câmara na quarta-feira, como foi amplamente noticiado. Disse ele que uma "elitezinha" aparentemente conspirou para o derrubar. Independente de isto ser de fato ou não o caso, isto acabou sendo mais uma manifestação de uma tendência atual: afinal de contas, o que é de fato esta tão cantada em prosa e verso "elite" a qual todos lançam tantas acusações? Me parece que o uso tão indiscriminado desta palavra nos últimos tempos a está desprovindo de qualquer real significado.

A definição formal da palavra é distinguir um grupo em particular, dentro de um grupo maior, que se destaca como os "melhores" naquela área, campo de atuação, habilidade, etc. Portanto, de saída o uso desta palavra para querer definir aqueles das "classes mais abastadas", querendo tornar a palavra intercambiável com expressões como "burgesia" ou "capitalistas" já é algo equivocado. Por si mesma, é uma generalização imprecisa, pois meramente ter dinheiro ou poder per se não torna ninguém "melhor" do que os demais membros de uma sociedade. Até podemos admitir que torna mais relevante, mas isto não é a mesma coisa do que "ser melhor", a definição mais precisa daquilo que se poderia considerar uma verdadeira elite, no real sentido do termo.

Mas de uma maneira ou de outra, o termo sempre foi usado e abusado por qualquer um que quer transmitir a impressão de que está sendo ameaçado por "Forças Terríveis" as quais estão conspirando para sua derrota. É especialmente uma velha favorita da esquerda, em particular daqueles grupos com inúmeros perfeitos idiotas em seus quadros, coisa nunca em falta nestes círculos. Assim, ao se estabelecer que estas "elites" estão contra aquilo que lutam, ao mesmo tempo se pode ter um inimigo contra o qual se voiciferar com paixão, mas sem ser específico. Algo muito conveniente para aqueles que não tem as bolas de chegarem e deixarem claro contra quem é que se consideram adversários, ou então para aqueles que não tem o cérebro de sequer saberem definir quem é que são seus adversários, afinal de contas.

O resultado é aparentemente termos que considerar a existência de uma elite que segundo consta, está sempre ali, que nem o bicho-papão, o bogeyman, pronto para saltar detrás do armário e dizer "boo" quando vamos buscar um copo de água na cozinha, ou então estarem reunidos em torno de uma mesa de carvalho no porão de alguma sede secreta, com charutos e conhaque, maliciosamente planejando conspirações. Nada como poder contar com inimigos invisíveis de conveniência, e na verdade, não é realmente uma prática nova, se pensarmos bem.